Todos temos um lado obscuro. Um lado obscuro não precisa ser necessariamente mau. Mas é necessariamente incômodo. Sou uma pessoa quietona, na minha. Para quem convive comigo através "das palavras" (redes sociais, facebook, twitter, blog, etc) isso parece meio estranho de se saber. Mas na realidade, no tète-á-tète, é assim mesmo. No trabalho, sou bem humorada, prestativa, competente. Mas sou quietona (percebam que meu texto está se enchendo de "mas", lá vem). Não falo muito, apesar de estar atenta a todas as conversas e participar, anda que só com os sorrisos e monossílabas de aprovação. Não é voluntário. É só, tipo... falar quando tenho algo a contribuir.
Outro problema: falo baixo. Sempre detestei gritos, e nunca fui a professora gritona da escola. Sempre tive o respeito dos meus alunos sem precisar levantar a voz. Mas esse falar baixo, pode ser visto como insegurança. Do meu corpo, da minha aparência, auto-estima, sou insegura. Mas do meu discurso, não. Esse tipo de característica faz com que, muitas vezes, eu não seja levada a sério. E sim, isso pode incomodar, bastante. Me sinto, algumas vezes, "esquecida".
Hoje me senti meio assim à tarde. Como um peixe fora d'água, um alguém pairando pra lá e para cá, sem assunto, sem um grupo, sei lá. Então, perguntei ao meu marido se eu parecia ser tão "inofensiva" assim. Ele respondeu com um sincero SIM. Que eu passo essa impressão de boazinha convicta (calma, não tenho a menor intenção de ser mázinha), e que sim, isso pode fazer com que eu não seja levada a sério. Então eu estava contando algo, e ele me "cortou" no meio do assunto para contar outra coisa. Aí eu falei: "É disso que eu estou falando! Eu começo a contar algo, e alguém me interrompe, como se o que eu estivesse falando não tenha a menor importância!". Ele riu, e falou que sim, meu tom baixo de voz passa essa impressão.
E meus amigos e minhas amigas, VIRGEM SANTA NOSSA SENHORA PROTETORA DOS SERES JAMAIS LEVADOS A SÉRIO, já perdi a conta das vezes POR DIA em que passo por isso. Ou começo um assunto e sou cortada no meio. Ou estou conversando com a pessoa e o olhar dela começa a divagar como se o que eu estivesse falando não fosse em absoluto do seu interesse, e eu ali, toda empolgada! VALHA-ME! Haja saco galera.
Sou ótima com as palavras escritas. Aqui, nem pareço ser eu mesma, a campeã do auto-bullying e da piada pronta. Mas na vida real, sou a sem gracisse em forma de gente. Nunca havia parado para prestar atenção nisso, ou melhor, já havia sim, mas não havia refletido sobre a questão em si. Isso explica muita coisa. A dificuldade que tenho em me sentir aceita em um grupo (quando você sente que o que fala/faz não é importante, é difícil se sentir aceita), e a consequente falta de assunto, e aí vem mais sem gracisse e, aos poucos vou sumindo, sumindo, a vozinha vai ficando mais fraquinha, até que um dia acho que me tornarei invisível.
Mas com certeza não ficarei invisível se isso for necessário para algo interessante. COM CERTEZA.
Não, esse não é meu lado obscuro. É meu lado cômico. Se não fosse trágico.